Não sendo caso de vida ou de morte, é pelo menos motivo para me interrogar, para investigar a minha existência à superficie destes calhaus.
Não!!! Vocês podem pensar que estou a fazer "uma tempestade num copo d'água", mas acreditem: o que quer que tenha sido a "missão", "designio", ou outra coisa qualquer que possa eventualmente ter motivado a minha presença nesta esfera....acreditem está com toda a certeza a sofrer falhas irremediáveis!
Mas diz lá! Desabafa! Ainda não percebi nada....o que foi agora!!!???
Então cá vai. Não viram já aquele anúncio de um amaciador, em que uma boneca de pano, de olhos lânguidos e corpo curvílineo, canta de forma sensual "Dá-me conforto........"?
Viram, não é? pois é........
Então não é que a minha filha de 13 anos, a minha filha de 13 anos (está-se-me a secar a boca) me disse que, e depois de uma audição mais cuidada do dito anuncio, e como se se tratasse da coisa mais natural do mundo: -Ahhhhhhh! Que engraçado!!!! olha que eu sempre pensei que este fosse um anúncio a um preservativo, ou assim.....porque sempre pensei que a boneca cantasse: "Dá-me com força...."......................................................................................................
Dá-me com força!!!!!!
Dei comigo a rir, a rir a gargalhadas coladas à minha voz. Sim porque isto, meus senhores é de "morrer" a rir...e repentinamente as gargalhadas não paravam mais... já sabia do que me estava compulsivamente a rir.....era do MEU desespero....então é assim que eles crescem?
Já me tinha esquecido.
PS:(passe a publicidade, era esta a tipa que suplicava que lhe "dessem"com força!!!)
Já disse o poeta (Vinicius de Moraes) que não há nada mais triste do que um gato morto.........
E é verdade......todos os dias desta semana, nos 9 kms que tenho que repetir 4 vezes, naquele ponto da estrada, tal qual um sinal de trânsito derrubado pelo vento da noite, está um gato de olhos mortos. Um gato preto de olhos mortos.
Olhos, e corpo, que a vida foi-se embora sem despedida prévia, ali mesmo na curva depois do caminho de cabras. Já há 3 dias, e aqueles olhos vazios sempre me cumprimentam, sem expressão nenhuma que não seja o do abandono da alma (sim da alma, porque os gatos têm alma, uma alma muito antiga, mais antiga que eu, mais antiga que o mundo inteiro), e eu olho de soslaio, porque me incomoda a ausência neles.
A pelagem baça, as orelhas ainda afitadas e...os olhos sem olhar de espécie alguma, só uns olhos de vidro assoprados.
Tenho medo daqueles olhos. Não têm dor, nem ódio, nem raiva, nem nada. Minto... só têm nada.´
Era um gato preto, de andar felino, elegante, de certeza que olhava para as cabras, para o pastor e até para o cão malhado com aquele olhar superior que têm os gatos pretos vivos.
E agora, depois da velocidade da curva, aquela logo depois do caminho de cabras, ficou lá, a dormir um sono sossegado, sem sobresaltos, um sono da cor da estrada, baça acinzentada como o rato que perseguia quando a curva o alcançou a ele primeiro.
Coitado, perdeu a corrida, e agora dorme de cansado, o gato preto de olhos mortos.