"É que me parece que se não nasce impunemente no Alentejo...." Eugénio de Andrade
"Alentejo não tem sombra, senão a que vem do céu..." Popular
Estão 44º centigrados lá fora, e estas duas frases aparecem-me em todo o seu sentido de verdade...
Uma verdade lancinante, marcada na pele como um ferro....
(O zênite também denominado auge, apogeu, culminância opõe-se a nadir.)
Diz-se que o céu dos pardais é a barriga dos gatos.....
E o céu dos gatos, onde será?
Espero que seja macio como a cama da avó Bia ......
Nela toda a natureza se manifesta de forma exponencial, tudo é grande, poderoso e implacável como uma tempestade de Maio, tudo estremece à sua passagem, a sua presença é irresistível como o sol de Março.
Ela é o sol de Março quando me olha nos olhos e sorri despegada de mágoas, um sol que encandeia todos os sentidos e afaga o coração... e dois passos depois já é nuvem carregada de cinzento prata velha, tão velha como os dias, tão velha como o meu amor por ela, um amor que existia já antes do mundo existir como agora o mundo é...
e a nuvem cinzento prata velha com a rapidez de uma gota de água furtiva, inunda o pátio soalheiro e calmo dos meus dias e reduz a lama o meu sossego..."agora vou ter que limpar, varrer, arrumar e amar de novo"...e não contente com o lamaçal, ela agora semeia remoinhos de vento em cada canto onde se senta a amuar, e depois já não são remoinhos, mas sim um vendaval que faz tombar todas as telhas da minha paciência...e de repente, assim, da tormenta, desponta, assim do meio do caos, outra vez o sorriso quente que ela tem quando sorri!!
Ela voltou para mim, mesmo depois de virar do avesso o meu ser, ela está de volta ao sol....espero que seja o de Março, que é brando e meigo, e não o de Agosto, que queima demais para aquecer.
Espero sempre qualquer coisa, é certo...mas ela, ela só dá se quer e quando quer...
E se ela chora (ainda não foi inventada nenhuma metáfora que possa ser utilizada para explicar como é triste quando ela chora), se ela chora, o meu corpo perde a força, e eu já não sou eu, eu sou ela...
Ela tem os olhos cheios de amor, daquele amor que só se sente quando se tem a idade que ela tem, e esse amor transborda por todos os recantos do seu corpo e torna-se aço quando embate em mim.
Deve ser por tudo isso que eu a amo tanto, deve ser por toda a dor que ela me transmite, que o amor que sinto por ela é tão incondicional, tenho a certeza que é por tudo isto que a amo.
- Podes chamar-me o meu nome...mas... podes charmar-me Gótica!!
by THE LITTLE BLACK BEE
Deixou cair o braço com estrondo. As flores desbotadas do lençol entraram em pânico. Está tanto calor!!!
As horas no relógio do móvel arrastam-se no compasso da noite, numa lentidão quase brutal.
Não fosse a garrafa de água na mesinha de cabeceira, e seria já uma passa de uva...os pulmões estão secos, a boca está seca, e no entanto o coração está a afogar-se.....é uma agonia observada pelas moscas em voos rasantes .
O coração está prestes a afogar-se....se não for o calor do breu da noite, vai ser de certeza a profusão de suor que tinge a pele.
Dá outra volta, e depois mais uma, braços e pernas dançam ao som do ranger da cama, ao tom do crepitar das flores desbotadas no lençol; procuram planaltos de frescura, planicies virgens de suor.
Mas tudo parece vão e inutil, completamente inutil...daqui a pouco amanhece, e, a angustia vai acordar, colada à pele como os cabelos revoltos estão agora, e o sol vai levedar a solidão, e logo, quando a noite entrar mais uma vez pela porta do quarto, vai chegar de novo só..só e quente como hoje, como ontem, como a eternidade.
Os 9 km que me separam do "forte", são deveras inspiradores, ou será mais correcto dizer transpiradores ...... pois..na verdade não sei.....
Não sei explicar assim, por letras se é o caminho que me inspira, ou, pelo contrário se é a desolação do olhar que me impele a transpirar a saudade que todos os dias engulo em seco e me faz aqui um nó na garganta, mesmo aqui a meio, de tal modo que acho que se vê no espelho retrovisor. Vê-se mesmo sem eu olhar pra lá.
Até parece!!!!
O grande lago!!! As terras do grande lago!!!!
"vai mudar tudo!!!! A terra, a aragem, a vida da gente, até os olhos vão deixar de estar secos, vai tudo verdejar"
....não se trata exactamente da terra prometida, onde correria Leite e Mel, mas andava lá perto.
E a alma da gente? Alguém, em algum momento se lembrou que este mundo de água ia arrastar pró fundo um bocado da alma da gente?
Onde ficaram as searas queimadas pelos Verões impiedosos? Esses campos cobertos de sol e suor? Onde ficaram os olhos da gente? A paz da aragem das tardes de estio de Agosto? O mar áspero de espigas gordas de pão acabado de fazer?
Está tudo afogado, morto, asfixiado pela água presa que encheu a alma da gente e a levou até ao paredão...
O verde enche agora as mãos dos homens, enche-as de vinhas carregadas da cachos lustrosos que aquecem almas novas.
E as almas não mais cantam, não mais se entregam aos rituais lânguidos dos campos em brasa. Agora o verde é luxuriante, e semeou ganância no coração das gentes.
O verde que é vida, o verde que é ar, é também rios de vinho a correr em direcção aos olhos esbugalhados e insaciáveis dos homens.
Agora as uvas enchem os bolsos, e os corpos engordam de felicidade......mas sem alma...
a alma está lá no fundo do grande lago a desfiar raízes de árvores velhas decepadas ......