- Queres vir espreitar o mundo?...sobe aqui pra cima....chhhh não faças barulho....
Consegues ver daqui?....consegues ver a calma....sentir o silêncio?
...eu sei...também o sinto...é parte de mim! O vento...
...e a água...o sol está tão frio!
...não...não faças barulho, deixa as amendoeiras nevar, deixa os oregãos temperar o ar...
Vês? Não tarda a tarde despede-se, e depois...depois podemos descer...
Voltas?
Fotografias da Leonor, tiradas no Monte do Vale Vaqueiros
I
Os campos estão cheios de cor
A Primavera chegou feliz
Cheira a mel e alecrim
O céu está de azul e giz
II
O coelhinho que é pintor
Na toca, no meio das flores
Pinta a tinta de arco-íris
Os ovos de mil sabores!
III
A cantar pelo caminho
Vem a menina a saltar
Tem um colar de margaridas
Deixa o perfume no ar!
IV
- Pim Pam Pum! - chama a avó,
- Já são horas de almoçar!
- Deixa as abelhas zumbir
- Vem comer o teu folar!
Ilustrado by Pim Pam Pum
- Foram três dias de assombro...
Falava...as palavras espalhavam-se como água e havia bocas que se abriam de espanto, e olhos paralisados colados na sua voz.
- O vento rugia com tal força, que os alicerces das casas descolavam da terra como dentes podres, e os homens trabalhavam amarrados a estacas de ferro de dez polegadas, e os tímpanos rebentavam e tudo quanto era ser vivente ensurdecia....
As mães ajoelhavam aos pés das camas onde as suas crianças dormiam. Ajoelhavam e velavam o sono inquieto, atemorizadas por alguma rajada insolente que entrasse por baixo da porta e lhes levasse os inocentes.
.....
-Eu vi! Ninguém me contou! Eu vi bem, três crianças pequenas, todas de mãos dadas, que se ergueram no ar como balões e voaram pelos céus , até desaparecerem por detrás de uma nuvem cheia de vento...não mais voltaram...eu bem vi...
......
- Depois foi a chuva, começou de madrugada e alagou tudo o que estava seco, só sobreviveram os que sabiam nadar....ou voar...
Começou de madrugada. Quando o vento de calou. Começou com tiros de canhão, que ecoavam nas casas como se estas estivessem vazias de coisas e de almas.
Fui à janela. Eram ovos do tamanho de punhos de homens grandes. Ovos de gelo que caiam com estrondo, e quando caiam saiam deles uns pintos encharcados que se derretiam e deixavam no ar um cheiro a gemada com aguardente.
E aqueles pintos derretidos, alagaram tudo o que estava seco...depois abriram-se bicas lá no céu, e fontes derramaram toda a água sobre nós. Safou-se quem nadava.....ou voava....
.....
-No último dia trovejou. E não houve noite, só dia claro, e um qualquer cegava com os clarões dos relâmpagos. E as árvores do campo tornaram carvão, queimadas da raiz às folhas, e a paisagem ficou pintada em tons de preto e branco... cinzento....e luz.
.....
-Por fim o silêncio...os que ficaram, apanharam os cacos, varreram as casas, escoaram as ruas, fizeram leitos de rio todos de novo, arrumaram as vidas....
Foram três dias de assombro. Eu vi......
.....
Depois calou-se, saiu para a rua, cortou a corda que o prendia à porta, com uma navalha de bolso, e tirou os pés do chão, devagar....deixou no ar um cheiro forte a gemada quente com aguardente.
Imagem by Weee (Amazing)
Demoro sempre um tempo enorme a responder a este tipo de desafios, e por isso peço desde já as maiores desculpas, em especial à minha amiga Sara, do maravilhoso Asas Para Voar, que me considerou...... tcharan !!!!!!
Ok, o que é que querem... fiquei babada ;))))
Todas as meninas linkadas no Meldevespas, todas as meninas adicionadas como amigas, todas, sem excepção considerem este prémio vosso.
Porque todas são especiais, porque me ensinam todos os dias qualquer coisa de novo, porque me fazem rir, me emocionam, me surpreendem, etc, etc, etc.
Também do Asas, e do A Ver Navios, do amigo J.M.Lopes veio a pergunta: Qual o objectivo deste blog?
Well well well, nenhum.......
Quer dizer.....é escrever o que me apetece. Gosto de escrever, de ler, gosto de criar. E deve ter sido isso em primeira instância que me inspirou para o nascimento do Meldevespas.
Acho que já disse isto em algum momento, mas vou repetir.
Não pretendo ter aqui um diário, um relato da vida da Carmo (me...), nem do mundo...nem tampouco pretendo expressar aqui sentimentos ou estados de alma.
Claro que já falei nas minhas crianças, é inevitáveL, e vou voltar ao assunto mais vezes, por certo, mas.... na sua base o Meldevespas tem apenas uma vontade enorme de escrever, escrever coisas que me passam pela cabeça, estórias de outros ou de ninguém, apenas escrever.
Tinha que passar este desafio a algumas pessoas...mais uma vez vou trocar as voltas às regras para estas coisas e dizer que todos os meus e-friends estão convidados a partilhar os objectivos dos vossos blogs.
E querida Sara, não me esqueço que faz parte do desafio, explicar porque vou ao blog que me distinguiu com tão saborosos presentes.
Vou todos os dias ao Asas, (por vezes mais que uma vez) porque lá também me sinto um pouco em casa. A Sara é mãe de três crias, tal como eu, e a Sara tem uma paixão enorme pelas palavras, tal como eu, e espero que ela tenha tanto prazer em ler-me como eu tenho em a ler a ela.
Caro J.M.Lopes, vou também diariamente ao A Ver Navios, porque a crítica social é fundamental, e principalmente quando é feita com aquele tom jocoso e até corrosivo que sempre lá encontro.
Era uma vez um gigante, um mostrengo esfomeado
Morava na toca de um coelho, que ontem tinha degolado
Acinzentava-se-lhe a tez, do aperto em que vivia
Já tinha um pé dormente, em suores frios se esvaia
Veio um curandeiro de gigantes, cirurgião respeitado
Com uma folha de lata oxidada
Cortou-lhe a dormência aos bocados
O gigante soltou um "ai!", e depois respirou fundo
Secaram as ervas em volta, com o bafo nauseabundo
O cinzento arroxeou,
o roxo esverdeou,
o verde amarelou,
o amarelo mirrou...
Foram chamados os físicos, entendidos na matéria
Auscultaram, analisaram, coração, veias, artérias
Finou-se a malfadada criatura, envolta em velado mistério
Chamou-se um gigante legista, para solucionar caso tão sério!!
Era tal o burburinho, afinal o que é que é?
O que matou o gigante foi um carrapato na sola do pé!
imagem: deviantart
Andavam no campo a pisar ervas.
Caminhavam com passos pesados.
Andavam a pisar ervas, porque no campo só há ervas.
Deixavam o ar carregado do cheiro das ervas pisadas.
Comiam as flores das estevas sem mastigar, e nem o travo amargo os fazia recuar.
Eram bichos
Fugiam deles as abelhas
Escondiam-se deles os escaravelhos.
Tinham os pés descalços e passos pesados
Esmagavam formigueiros, alecrim e rosmaninho
Calavam rumores de pássaros
Sacudiam borboletas e mosquitos com o vento feroz das mãos abertas
Ateavam o sol e queimavam ramos secos.
Acordavam crias adormecidas.
Enchiam o vazio de ruídos
Esvaziavam a vida das coisas
Eram bichos
Não tinham fome
Tinham pressa