No mundo não conhecia mais que três sons. A voz da mãe, o uivo do vento e o choro da noite.
A mãe deixara de existir num sopro, o vento cessou na placidez do monte, e o choro extinguiu-se num remorso.
Ficou o silêncio. Um silêncio cheio de estalidos de passos inquietos no soalho cansado do casebre.
E eram esses passos que agigantavam as ausências.
Um dia viu-a. Ela corria a par da ribeira, e os pés descalços provocavam um restolhar impaciente nas ervas tenras da margem.
Ela era alegre. Cantarolava baixinho e falava com os bichos, e dava gargalhadas e soltava os cabelos na água quando o sol se punha.
Ele vivia de longe. Galgava a noite à pressa, e sorvia a manhã no leito da corrente. Olhava-a do cimo do monte a acalmava o peito com um gesto pagão.
Um dia ela deixou de lá estar. Ficou um cheiro de flor de laranjeira a carregar o ar, e um ondular leve na margem da ribeira.
Nessa noite dormiu devagar, e acordou sobressaltado com um som familiar. Chorava.