Estava farto da noite, o morcego de olhos vermelhos.
Era um vampiro míope, não via pescoços novos, nem velhos
Sonhava à luz do dia, com caçadas às claras
Ratazanas às fatias, cobras e moscas raras
Uma noite sem luar, em que o breu era total
Depois de um voo rasante, sobre uma teia sinistra
uma aranha viúva, com ares de quem é "a tal"
Apertou-o sem pudores, até lhe vazar uma vista
Noutra aventura nocturna, já ia alta a lua
Saiu com toda a família , pra uma festa de rua
Numa investida mortal, à jugular de um pardal
Falhou o objectivo , por um centímetro fatal
Mordeu um cata-vento , no alto de um campanário
Partiu toda a dentadura, naquele dantesco cenário
- Deste momento em diante - proclamou com emoção,
Com os olhos vazios e uma muleta na mão-
- Só caçarei de pistola, de catana ou à pedrada
Já não vejo, já não mordo, a minha vida está finada!
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