Era uma vez um medo, que vivia num fundão
acordava apavorado p´lo bater dum coração
Feio como são os medos, soturno como um caixão
assustava pirilampos com arrotos de trovão
Era uma coisa disforme, assim sem forma ou feitio
com um olho no umbigo e baba a correr em fio
Dava-se a ares arrogantes por um certo pedigree
rosnava num tom arrastado:
- Tenham medo! Eu estou aquiiiiiiiii
Nas entranhas de nenhures levitava aquele espectro
suspirando de quando em vez, pelo zumbir de um insecto
Consumia-se em sobressaltos, tamanha era a solidão
uivava de Lua a Lua e extenuado, morria no chão
Esquecido naquela jaula, aquecido em suspiros fundos
sucumbia desastrado a sons diáfanos e rotundos
ás vezes sentia medo, o medo ali encarcerado
- Quão profundo é este leito? - andava o medo intrigado....
Cego desde o primeiro dia, assustador aclamado
o medo de amar assombrava.... um rapaz apaixonado.
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