Jogou-lhe as mãos à volta do pescoço. Num suspiro gemido disse-lhe ao ouvido:
- o nosso amor é eterno!
ele deixou-se rir:
- não, o nosso amor é etéreo... deixemo-nos de eternidades que só a palavra me devolve um cheiro velho, a velhos e compressas de formol, o som cruel dos carrinhos de soro lavado a morfina a dedilhar corredores de mármore num passo arrastado sem fim......
o nosso amor está acima de tudo isso, está longe do envelhecimento da espécie, e próximo da permutação do ser, que se lixe a eternidade!
- ...m ..mas eu só queria dizer, que o nosso amor é para sempre....
- esquece o para sempre! esquece! - exasperou-se - para sempre são bocas cheias de terra, entendes? para sempre são corpos cheios de algodão...se te amar para sempre... acabamos mortos. Já pensaste nisso?
Agora o queixo tremia-lhe. As lágrimas ameaçavam transbordar, e transformar aquele fim de tarde, num dilúvio:
- Só pensei... que me amavas...
- E amo! Amo-te agora, hoje, aqui.