Terça-feira, 3 de Junho de 2008

Leve...

 

 

 

Vinham de mãos dadas.

Subiam pelo caminho ladeado de água.

Tinham os dedos enlaçados e as mãos suadas.

Traziam sorrisos francos, abertos nos lábios.

Caminhavam lado a lado, os joelhos trémulos do amor acabado de fazer  às claras, debaixo da figueira, só os frutos leitosos, ainda verdes, como testemunha.

Guardavam na pele o suor do outro, como uma relíquia, e deixavam atrás o chão marcado de pegadas molhadas.

Sorriam, motivados pelo vazio imenso ao seu redor, e pelos caudais de saliva derramados sem pressas.

Transportavam nos olhos apenas a leveza do dia de hoje, e partiam sem mais rumo que não a presença do outro,  pelo caminho adiante.

 

Passaram por mim.

Fiz de conta que não os vi.

 

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Original Zumbido por meldevespas às 15:52
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Quinta-feira, 3 de Abril de 2008

Quando o sol desiste

Era a última hora de sol daquela tarde de Abril.

...e ainda caminhava, numa matriz copiada até à exaustão. Um pé depois do outro, sempre no ritmo marcado pelo calor do macadame.

O passo era certo e firme...o destino...era a vontade de chegar.

Onde?

...

Caminhava ainda, o sol desistia devagarinho, o homem não. Ainda não. Mais um pouco de estrada, não faltava muito para chegar.

Onde?

...

Sabia-o. Sempre o soubera. Caminhava porque sim.

Era peregrino do caminho por fazer.

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Original Zumbido por meldevespas às 10:35
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Sexta-feira, 21 de Março de 2008

Primavera Pim Pam Pum

 

I

Os campos estão cheios de cor

A Primavera chegou feliz

Cheira a mel e alecrim

O céu está de azul e giz

II 

O coelhinho que é pintor

Na toca, no meio das flores

Pinta a tinta de arco-íris

Os ovos de mil sabores!

III 

A cantar pelo caminho

Vem a menina a saltar

Tem um colar de margaridas

Deixa o perfume no ar!

 IV

- Pim Pam Pum! - chama a avó,

- Já são horas de almoçar!

- Deixa as abelhas zumbir

- Vem comer o teu folar!

Ilustrado by Pim Pam Pum 

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Original Zumbido por meldevespas às 23:22
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Terça-feira, 28 de Agosto de 2007

Cumprir Caminhos

Quando finalmente o sol despejou um jorro de claridade na escuridão da noite, já a rapariga percorria há muito, os caminhos. Calcorreava veredas, investia matagais, cumpria pedaços de chão, como quem morde côdeas de pão duro. Como quem morde a vida por vingança.

- Estava ao alcance da mão...mesmo, mesmo aqui... e agora tenho que acelerar o passo..não posso fraquejar!. Não agora!

Pedras pequenas e finas como dentes de leite, vermelhavam à sua passagem, e o que estava morto e seco, levantava-se de jubilo pelas suas feridas.

- Parava só um bocadinho...se pudesse.....mas não posso...se parar agora..é o fim..e eu não quero que o fim seja isto, assim, no meio do nada, só embalada pelo resfolegar das cobras nestas pedras tristes....

O fim de um caminho, era sempre o começo de outro, e, depois de uma vereda estreita, vinha sempre outra ainda mais estreita, e os espinhos do mato, feriam cada vez mais fundo, as suas pernas, e os dentes de leite no chão, erguiam-se a cada sopro de vento, mais alto, e eram já presas de um qualquer carnívoro no recobro de um parto...e o caminho só cumpria o dia a seguir à noite, e a noite a seguir ao dia, numa sucessão desoladora de sol e de lua.

- Ardem-me já os olhos, e o peito...arde-me tanto o peito...é o desejo que arde que eu sei que é...mas já falta pouco...

Mil noites e mil dias depois, os caminhos acalmaram, as veredas amansaram,  o mato descansou, e a rapariga podia até respirar fundo e deixar cair o cansaço de promessas cumpridas....mas o peito ardia ainda e cada vez mais fundo.

É um fogo posto pelo andar desvairado de mil dias e mil noites.

- Podes parar de queimar? Só um bocadinho, pra eu respirar fundo. Agora que cheguei à vida, queres matar-me na fogueira? Fogo cego! Na fogueira já tu me mataste antes, nesses caminhos sem fim! 

O rapaz estava lá sentado.

Sentado, como quem espera a paz no mundo.

O rapaz era todo de água, e sorria com um sorriso antigo tingido de azul.

A rapariga correu para ele e o rapaz abriu os braços,  os dois aplacaram fogos, e juntos desaguaram no mar.

sinto-me:
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Original Zumbido por meldevespas às 12:32
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