O dia chegou destemido. Entrou em jorros de luz pelos vidros da janela sem se fazer anunciar, como uma visita inesperada.
Os meus olhos cegaram de tanto sol. Senti a noite escorregar pelos lençóis de linho até se diluir no rasto de pó dourado.
Uma profusão de claridade, encheu o ar de partículas brilhantes que te tocavam a pele, e te lambiam as costas nuas.
Foi nesse instante, nesse momento em que o toque se sublima, que duvidei da tua presença.
Serias tu corpo, e carne e sangue? Ou apenas restos de um qualquer cometa espalhados em mim...
Acho que sorri. Eras tu. Corpo, carne, sangue. Meu.
Cheia de certezas, e ainda ébria de tanta luz, levantei-me.
Senti os pés queimarem. O amor usado na noite, fervia em borbotões derramado pelo soalho.
Apanhei-o com cuidado, e antes que o dia o invejasse, guardei-o a sete chaves, num sítio que só eu sei.
Com as mãos em labaredas, enxotei a luz com as cortinas, e deitei-me outra vez.
A penumbra embalou a manhã, e eu abracei-te iluminada.
Pics by Meldevespas
Espreitou por entre os cortinados escuros. A luz do dia não mentia.
Tal como ela temia.
O tempo ameaçava sol.
O sol minguava-lhe os dias. Era fogo posto debaixo da sua roupa.
Tal e qual ela temia.
Fizera juras de clausura ao calor da rua. Promessas de portas fechadas à luz do branco das paredes. Jejuns de manhãs mornas na soleira da porta...
O sol minguava-lhe as horas e acrescentava-lhe a inquietude.
Apertava a camisa com força contra o peito. Tinha que travar o bater de asas ali dentro. Os nós dos dedos empalideciam. Os lábios também.
Uma abelha pousou na flor de laranjeira, daquele ramo que quase batia no vidro da janela....
se agora abrisse a portada, só uma fresta pequenina, o cheiro a laranja doce e pólen acabado de colher , iam entrar-lhe pelo nariz e amolecer-lhe as pernas, e era certo, as pontas dos dedos gritariam por frutas e sumo e pêssegos suaves...
A abelha zumbia mansinho...ela arrependia-se baixinho...jamais abriria a janela num dia como este! Um dia de horas minguadas e euforias em crescendo.
Continuava ali. Prostrada junto ao vidro quente. Se ao menos chovesse dias a fio. Se o céu arrefecesse e se enchesse de cinzento...ela podia então largar a camisa sobre o peito...livre...sem temores de revoadas de pássaros e pousos de insectos.
E voltaria a ser ela, firme e sem pele...e sem sede de frutas ou fome de sumos...
Tinha a boca seca.
Caiu de joelhos no chão de mosaicos frios e chorou.
As mãos soltaram a camisa que teimava em abrir...
A abelha zumbia baixinho.
Ela atrevia-se, devagarinho...
imagem by deviantart
1
Um morcego, duas luas
Uma bruxinha a voar
Chapeu de estrelas brilhantes
A quem irá ela encantar?
2
Bate à porta: truz truz truz
Já lá vai! Quem está aí?
É a bruxa da vassoura,
E está à espera de ti!!!!
3
Doçuras ou travessuras?
Aranhiços a trepar
Uma teia de algodão
Um vestido de luar
4
Rebuçados de cereja
Beijos doces de melaço
Pim Pam Pum faz um feitiço
E prende a Lua num laço!
I
Vestidinho de organdi
Sapatilhas de verniz
Laçarotes no cabelo
Uma pinta no nariz
II
Dois brinquinhos de cerejas
Um saiote de veludo
Rodopia com leveza
E ar de quem sabe tudo
III
Chupa chupa colorido
É varinha de condão
Faz magia Pim Pam Pum
Põe os sonhos num balão
IV
Dança, gira, roda, pula
Bailarina de papel
Já cansada vai dormir
Sonhar com bolos de mel
A pedido da verdadeira Pim Pam Pum, com ilustração e fotografia da mesma!