Dá-me a tua mão.
Só assim consigo. Dá-me a tua mão, e de vez em quando aperta com força, para eu não me esquecer que estás aqui, que não estou sozinha.
Nunca gostei de estar só.
Em criança, quando a noite caía, e as luzes se apagavam, o silêncio estava sempre carregado de estranhos rangeres que me estalavam nos ouvidos e me enchiam de medo.
Quando a noite caía, e as luzes se apagavam, como um animal do escuro, percorria a distância entre os dois quartos, pisando os mosaicos gelados, um pé, depois outro, numa marcha certa e precisa, e de joelhos na beira da cama, procurava a mão da minha mãe.
A silhueta mexia-se ao de leve, e voltava ao sono profundo logo de seguida.
Eu ficava de joelhos, ali, encostada na madeira dura, finalmente em sossego. A minha mãe dormia, podia vê-la, perfilada na luz da lua coada pelos estores entreabertos.
Era só na escuridão que as pontes se estreitavam. Durante o dia, as ruas eram largas, e o meu espírito ávido de descobrir recantos e espicaçar esconderijos recondidos.
Agora, mesmo de dia, só há pontes, arames esticados...arames sem rede.....e becos escuros.
É por isso que não posso...não consigo ir sem ti. Se me deres a tua mão, como sempre dás, assim, a apertar devagarinho, e às vezes com força, se fizeres assim, posso olhar em frente e confiar.
Subia para o colo do meu pai. Primeiro para cima de uma cadeira , e depois para o colo do meu pai. Era uma aventura! Uma escalada em segurança. O mundo a meus pés, sem dores, sem mágoas, sem ferir nada nem ninguém.
Depois cresci. Como? - Não sei, ninguém sabe como cresce. Cresce e pronto. E quer muito crescer! É toda a gente assim...
O desejo de tocar o céu, leva os ramos fracos a afastarem-se dos troncos protectores. Mas o céu não é dos ramos, nem dos homens. O céu deve ser dos pássaros, e de Deus.
Vamos? Agora é só pontes estreitas, vês? Caminhos de pedras escorregadias, estradas de declives pronunciados, e escarpas tão altas e íngremes que nem se vê o fundo.
As crianças perderam-se? A inocência está a perder-se...eu sinto que sim. Já não sou capaz de dar um passo sozinha no escuro. E tu?
Fotografia Fotodependente